Itans - Contos dos Orixás

Eis o itã que mostra a imensa força de criação de duas Iabás na sua ânsia por ofertar-nos a Vida:

Criar, gerar é coisa de mulher e um dia Ólorum, cansado da perfeição plácida do Órun, onde erguera seu palácio transparente de tão branco que era, resolveu que deveria criar algo para além da Não- Existência.

Resolveu criar o Aiê – a Terra –, e que seria uma cópia de muitas das coisas que havia no Órun, mas como uma diferença fundamental: seria um lugar em que tudo que a formava, em que os seres que a habitariam seriam formados por matéria perecível, portanto subjugados a morte, a Iku….

Mas isso é outra história.

Então Ólorun chamou todos os orixás Funfun e pediu a seu filho, Oxalá, que comandasse a empreitada. Pediu da mesma forma que sua irmã, Odudua, o acompanhasse.

Porém, o que os orixás não sabiam é que o Senhor Supremo , já havia decidido que Oxalá deveria falhar na primeira tentativa de completar a tarefa. E Oxalá deveria falhar porque Ólorun queria dar a sua filha uma chance de também se destacar na criação da Existência. Como pai não queria demonstrar predileções ou causar ciúmes entre seus filhos.

Após o fracasso – provocado por Exu que cumpria as ordens que recebera secretamente da própria Odudua – todos os orixás já estavam de volta ao belo palácio de cristal, exaustos e envergonhados pelo fracasso,

Odudua, no entanto, foi levada de imediato até Ólorun que lhe disse, sem rodeios:

– Filha, você deve ir até o Opo-Orun-oun– Aiê, nos limites dos nosso reino. Quando você chegar lá, verá um pilar que une o Orun ao vazio do Infinito. É precisamente neste local que você deverá criar o Aiê, o mundo dos mortais. Leva contigo o saco da Existência e procede de acordo com as orientações que já dei a Oxalá.

-Será no Aiê que você reinará, e será conhecida como a Senhora da Vida e da Morte.

Assim procedeu Odudua e, por sua vez, foi outorgando a cada um dos orixás que faziam parte doo seu séquito uma tarefa na formação do novo mundo.

E então quando chegou a vez de Nanã, a água já havia sido criada, mas a terra ainda não.

Odudua, em tom imponente, ordenou a Nanã, mas com imensa reverência por se dirigir ao orixá feminino mais velho, :

– Saluba, Nanã. A ti outorgo o comando da lama para que separada da água, surja a terra sólida que permitirá a existência de todo ser vivo no Aiê.

Deste modo, por determinação de Odudua e pelas mãos de Nanã, a lama e a terra passaram a ser elementos primordiais da criação. Tornaram-se o início e o fim de tudo que vive e perece .

Assim mais do que estar ligada à morte, Nanã com sua lama é a Iabá que possibilita a vida.

Saluba Nanã Burucu !


Fonte: Adilson de Oxalá. Igbadu, a cabaça da existência: mitos nagôs revelados. Editora Pallas..

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